Comentando a discografia da banda finlandesa Nightwish!
Último disco de estúdio com a vocalista
Tarja Turunen, Once, de 2004, é um álbum que dá seguimento ao som
característico do Nightwish, com peso, melodia, batidas fortes e erráticas e
abuso dos teclados, mas claramente menos lirismo nos vocais. Quanto ao conteúdo
das letras, não vou me aprofundar, visto que quase todas são pesadas, tristes e
misteriosas, com um tom épico de tragédia. A palavra once (que
significa uma vez) aparece em várias faixas. Capa oficial:
O videoclipe da música Nemo
anunciou o sucesso do novo trabalho da banda antes mesmo de ser lançado.
Tuomas, compositor, autor e tecladista, disse em entrevista que essa canção e
outra (a segunda faixa) foram criadas para serem as músicas de trabalho,
executadas em rádios, ou seja, nasceram totalmente com intuito comercial, para
agradar o grande público. A banda estava no auge da popularidade entre emos e
pseudo-roqueiros(as). É bucha o estrago que a mídia faz! Abaixo, capa da versão
americana:
A primeira faixa é Dark
Chest Of Wonders (Caixa Negra de Maravihas - ou Mistérios), que depois de
uma vozinha sussurrada na introdução, entra rompendo, chega a ser barulhenta
demais. Tem um coro lírico, mas parece forçado demais pra mim. A letra
sinceramente não tenho paciência pra interpretar, são sempre coisas misteriosas,
cita o mar (como sempre), alguma literatura por mim desconhecida e traz versos
vagos.
Na sequência vêm as citadas canções comerciais. Wish I Had An Angel (Eu
Queria Ter Um Anjo) tem uma batida quase que em ritmo de música eletrônica, a canção
abre com o vocal dobrado de Tarja e Marko Hietala (baixista), com a chamada do
refrão grudento. A música é trilha sonora do filme Alone In The Dark, baseado
num videogame (uma bomba sem tamanho – efeitos fracos e roteiro sem pé nem
cabeça) e no clipe se vê a alegria de Tarja cantando uma melodia mais levinha e
comercial. A letra é pesadinha, fala de um amor obsessivo, um desejo de
violentar. Destacam-se os bonitos versos “Amores antigos são difíceis
de morrer/Mentiras antigas, ainda mais difíceis”. Nemo é uma
baladinha hard pra agradar a todos, não é ruim, mas enjoa depois de um tempo,
típico som de um público consumista de pop descartável.
A quarta faixa chama-se Planet Hell (Planeta Inferno), começa bem
épica e se transforma num metal animal. O baixista, que confere um peso extra
com sua voz, divide as partes com Tarja numa canção sobre a violência e o
abandono da humanidade e da natureza. O verso “Mãe Gaia massacrada”
se refere ao espírito vivo de nosso planeta, do qual somos minúsculas manifestações.
O refrão diz: “Economize para si uma moeda para o barqueiro”,
se referindo ao ritual pagão (viking e acho que de outras culturas) de se
colocar dinheiro sobre os olhos dos falecidos para pagar o barqueiro que leva
as almas para o mundo dos mortos.
Bem lenta, Creek Mary’s Blood (O Sangue do Riacho Mary) começa com uma
flauta e um canto indígena que, graças a eu ter assistido várias vezes o filme
Dança Com Lobos, pude reconhecer como sendo a língua Sioux (tribo que vivia na
América do Norte). Essa balada fala exatamente do massacre dos índios pela mão
do homem branco: “Vocês lutaram, nós perdemos/Não a guerra, mas uma
batalha injusta”. Vejam estes versos: “Uma vez nós estivemos
aqui/Onde nós temos vivido desde que a estrada começou./Desde que o próprio
tempo nos deu esta terra/Nossas almas vão se juntar novamente à natureza”.
Esta canção pode não ser tão boa de se ouvir quando não se sabe um pouco sobre
o que fala. Não sei se alguém sabe se o título se refere a uma batalha em
especial, acredito que sim. Uma vez achei na internet a transcrição fonética da
parte final, uma narração em sioux, mas não cheguei a copiar. Pena. A tradução
eu tenho, termina assim: “Seu orgulho leva vocês ao seu fim”.
The Siren (A Sereia), é uma música
diferente, com parte cantada bem pequena e com as vozes masculina e feminina
novamente, e se destaca pelo violino. O videoclipe é mais estranho ainda, um
desenho animado todo com efeitos de videogame, numa historinha estranha.
Em seguida vem Dead Gardens (Jardins Mortos) tem um ritmo mais
leve, mas sempre arranhando a guitarra, e a letra traz mais melancolia e um
clima gótico e mórbido. Num dado momento é citada a “Trilha Élfica”, título da
primeira canção do primeiro álbum da banda. O final da música é irritante, a
batida parece de um disco arranhado e a parada é brusca. Temos
então, de maneira tão sonoramente desagradável e barulhenta, com um coro lírico
irritante, a introdução de Romanticide (algo como Romanticídio – o
assassinato de um romance), mas é só a introdução, depois a música descamba pra
o que o Nightwish faz de melhor, som clássico com vocal lírico. Nesta letra
romântica é citado o “Garoto Morto” do disco Wishmaster e
mmmmmm, minha teoria a ser falada no último post desta série é reforçada pelos
versos seguintes: “Me veja arruinado por minhas próprias
criações/...Cuspa em mim, vamos lá, livre-se de mim/ E tente sobreviver à sua
estupidez".
Com certeza a melhor música deste disco é a épica Ghost Love Score
(difícil de traduzir, algo como Marca do Amor Fantasma), que conta com uma
orquestra magnífica (a mesma que gravou a trilha sonora da trilogia Senhor dos
Anéis) e usa todo tipo de instrumento em seus momentos de solo. É impossível
não lembrar do show que assisti em Porto Alegre, com todo mundo cantando o
refrão até o final, e como li numa crítica, o entusiasmo dos fãs dispensava o
playback com as vozes dobradas em coro, pois nem foi ouvido. Pena que a parte
orquestrada no show também era gravada. Nos seus 10 minutos de puro deleite
auditivo, uma letra romântica e trágica permeia nossa alma de modo a - opa, me
empolguei...bom, basta citar os versos do refrão: “Minha queda será por
você/ meu amor estará em você/ Se for você aquele a me cortar/ Eu sangrarei
para sempre”.
O álbum termina com Kuolema Tekee Taiteilijan (A Morte Faz Um
Artista), beeem parada (sem bateria ou guitarra) e em finlandês, e com Higher
Than Hope (Maior Que A Esperança), também lenta mas com o refrão mais
lírico, mas meio chatinha, e a letra é uma triste despedida de um moribundo.
Embora não considere o melhor trabalho da banda, ótimas músicas surgiram neste
álbum, e foi na sua turnê que pude ver ao vivo os finlandeses em Porto Alegre e
ahh... a Tarja parecia uma deusa nórdica! Que elegância! Que formosura! Que
talento! Que decote! E que mudança no visual desde o vídeo de The
Carpenter, hein? Milagres da estética e do dinheiro!
EU VI O NIGHTWISH EM PORTO ALEGRE DIA 02/12/2004!!! FOTOS DO SHOW (peguei da net, não tenho o créditos):