Primeiro
disco do Nightwish que adquiri e terceiro na carreira da banda, Wishmaster é um clássico total pra quem
gosta do estilo. Quem não se empolgar ouvindo as 3 primeiras faixas ou a sexta,
que dá nome ao disco, nunca vai gostar de Nightwish, pois a essência da banda
concentra-se nestas músicas. Melodia, peso aliviado pela voz lírica; e batida
rápida, além de letras interessantes, pra quem se aprofunda um pouco mais. A
capa também é muito bonita com elementos presentes em várias músicas e capas
anteriores, como o menino, o cisne e o oceano. Vejam:
Logo no começo, temos uma bela
surpresa, com She Is My Sin (Ela É
Meu Pecado), com uma batida forte com as paradinhas complexas recorrentes do
metal melódico, sempre com um efeito legal do teclado. O ritmo não é muito
acelerado, e a letra fala de luxúria e paixão. A segunda música se chama The Kinslayer, cujo nome provém de um
livro de RPG (Dragonlance: The Kinslayer Wars), e significa algo como “Aquele
que mata os da própria raça/família”. Tem um começo parecido com a primeira
música, porém mais complexo. É uma das mais pesadas e rápidas do disco, e o
destaque vai para a maneira de Tarja cantar digamos, silabado, como um fôlego
curto, as palavras mais longas são pronunciadas aos poucos. A letra deve ser
inspirada nos jogos do livro de RPG, falam de um mundo sem esperança, e uma
criatura que vem destruir a todos. Era música obrigatória do repertório da
banda na época de Tarja. Muito boa. Há um clipe desta música ao vivo em Buenos
Aires.
Come
Cover Me (Venha Me Cobrir) é um rock romântico, com uma levada mais suave,
mas não parada. Os efeitos do teclado dão, como sempre, clima e sonoridade
diferentes, misturando o antigo e o moderno. Há uma verdade universal num dos
versos, que diz: O tempo devora a beleza da paixão. Bela canção. Wanderlust (Sede de Aventura) é a música
seguinte, começa bem pesada e rápida depois vai diminuindo, terminando com um
coral de vozes sobrepostas. Fala de
desbravar a natureza, paisagens e liberdade, mas traduzir essas letras de outra
cultura é difícil. Tem um verso assim: See
the mirrors of a wolf... Como traduzir isso? A palavra mirror, em inglês, pode significar espelho, molde, modelo, reflexo
e otras cositas más.
Two
For Tragedy (Tragédia Para Dois) dá uma quebrada no ritmo do álbum, é bem
parada, mas não é romântica, apenas melancólica. Assim como diz o título, a
letra fala de um filho doente à beira da morte, um clima de velório e uma mãe
cuidadosa. Mas essa tristeza toda acaba
quando a canção-título do álbum, Wishmaster
(Mestre dos Desejos) entra rompendo o tímpano. Vocais operísticos dobrados,
batida e teclados acelerados, solos alucinantes e refrão épico, esse heavy
clássico virou marca da banda e se firmou como um de seus maiores
sucessos. Claro que depois de uns meses não se agüenta mais ouvi-la graças à
repetição excessiva do refrão, mas tudo bem. A letra fala de um mundo
fantasioso tipo “O Senhor dos Anéis” e alguns personagens que, admito, não
conheço, como o Aprendiz, Shalafi, Sla-Mori, Silvara, Lorien e Heartborne e
lugares como Refúgios Cinzentos.
A sétima faixa é boa, mas claro que
não chega aos pés de uns clássicos como as 3 primeiras e a música-título e
também tem um nome de tradução duvidosa: Bare
Grace Misery (Miséria Despida de Graça). Tem um ritmo leve, quase romântico,
e fala de uma mulher Lasciva, que seduz, talvez uma prostituta. Destaque para o
verso: Não há padre que reze de maneira que eu vá para o céu
(Safadinha, não?). Na música seguinte, Crownless (Descoroado), o peso e a
rapidez retornam com força total, uma das mais rápidas junto com Wishmaster e The Kinslayer, esta com refrão mais clássico. Haja ouvido pra essa
música, destaque para os solos de guitarra e teclado, sendo que este permeia
fantasticamente 95.2% da canção, não parando quase nunca. A letra fala de um
ex-rei e uma ex-rainha, de aventura e elementos medievais.
Deep
Silent Complete (O Completo e Profundo Silêncio) é uma bela canção no
estilo Come Cover Me, calma mas não
parada, a voz fica às vezes sozinha cantando a letra ou cantarolando num coralzinho
pegajoso. É um poema que fala sobre... bah, sei lá, é confuso! Morte, paraíso,
maldição e o mar, além da presença da metalinguagem.
Até há algum tempo considerada pelos membros da banda sua
obra-prima, Dead Boy’s Poem (O Poema
do Garoto Morto) é uma balada épica (mas não muito longa, o que é bom) com uma
melodia belíssima, com direito a um final em ritmo crescente, vocais dobrados e
bateria com “rolos” técnicos lentos e mirabolantes, meio tribal, difícil de
explicar. A letra é um belo poema sobre a alma envergonhada de um garoto,
aliviada por ter morrido, tentando confortar a família, pelo menos nas
partes que o garoto narra. As outras estrofes são versos sobre tristeza. A vida
é comparada a uma canção, e o músico/compositor, um médium.
A penúltima canção da versão que tenho deste disco e última
da versão oficial, FantasMic (algo
como “Fantásmico”) começa bem pesada e lenta, num clima de mistério, o refrão é
bem épico e operístico, tem umas partes bem calmas e paradas e no final a
velocidade e o peso tomam conta novamente para fechar a canção. Mais uma vez
fala de reinos fictícios e o mundo da fantasia, dragões e um personagem chamado
Yen Sid. O texto se divide em 3 partes,
e cita o Mestre dos Desejos. Destaque para a terceira parte, que começa
com o som de flautas. Fechando o álbum, Sleeping
Sun (Sol Dormente ou Adormecido – o sentido é o sol na hora de se pôr) é
uma balada bem calma e bela, suaaave.
Devagar quase parando, mas boa para dormir, hehe. Fala de amor, desejo e
belas paisagens. Essa música aparece como bônus em algumas versões do Oceanborn
ou em CD’s de singles. Tem um belo clipe, com Tarja sozinha em lugares
paradisíacos, ainda na fase “cheinha”, mas muito bonita. Em 2005 a banda
regravou essa canção, com a voz de Tarja não tão lírica, e também fez outro
videoclipe, com uma superprodução de final de batalha nas cruzadas. Prefiro a
original.
Wishmaster fez o Nightwish aparecer no mundo todo, e com
mérito, pois a produção é de altíssima qualidade e o que se ouve neste disco só
pode ser definido como metal melódico
(com vocais líricos femininos, o que é melhor ainda). É tecnicamente perfeito.
Parabéns a Tuomas Holopainen por esta obra. E foi na turnê de divulgação deste
álbum que Nightwish veio ao Brasil pela primeira vez.