16 de jun. de 2013

Engenheiros 3 de 3


        O terceiro na minha lista de preferidos entre os álbuns dos Engenheiros do Hawaii é Gessinger, Licks & Maltz, que lançou pelo menos 2 hits na era de ouro da MTV Brasil: o primeiro é a inteligente primeira faixa Ninguém = Ninguém, com a máxima de George Orwel no seu livro A Revolução dos Bichos (Todos iguais, mas uns mais iguais que os outros); e a segunda é a calminha Parabólica, em cujo clipe aparece a filha (e inspiração – o termo clarabólica na letra se refere a ela) do vocalista, Clara, ainda bebê, que participou anos depois do acústico da banda cantando com o pai.



           Esse é um disco estranho, mais calmo que Várias Variáveis e se não me engano, foi o último com o ótimo guitarrista Augusto Licks, uma lástima e provavelmente a razão de eu nunca mais ter curtido tanto o som da banda (pelo menos não um álbum inteiro). Retomando, digo estranho porque é mais melancólico, mais nonsense, com as músicas misturando seus próprios elementos, canções interligadas, títulos esquisitos e etc. Mas as canções sempre valem a pena, quando não na sonoridade, nos versos, e vice-versa (trocadilho sem intenção).
A segunda faixa é Até Quando Você Vai Ficar?, que assim como outras neste disco, engana pelo título, que se completa na letra com as palavras “fazendo o que quer comigo?” o que muda completamente o sentido da pergunta. Traz também aqueles efeitos sonoros feitos no teclado (acho eu) para os backing vocals, é uma das que eu mais gosto, mesmo porque me traz lembranças íntimas.
            Pampa no Walkman (olha aí de novo o nome do finado aparelho) é uma milonga no violão bem gauchesca, com uma poesia bem louca ao estilo do compositor. Em seguida vem Túnel do Tempo, que começa bem triste e depois fica mais agradável, tem versos profundos e outros absurdos.
            Depois temos Chuva de Containers com uma reflexão social disfarçada num texto ácido e melodia mediana, mas pesada. Também melancólica no início, Pose (Anos 90), traz um texto otimista e em alguns poucos momentos datados, mas com bela poesia e melodia.
            A faixa seguinte se chama No Inverno Fica Tarde + Cedo e é bem parecida com o início da canção anterior graças à voz aguda de Gessinger e também ao piano, que comanda até o fim, os versos são mais profundos e também muito bonitos, pesados, realistas e melancólicos.
            Olha só esse título: Canibal Vegetariano Devora Planta Carnívora, isso mesmo, parece uma manchete absurda. E os versos sem sentido (acho eu que aparentemente – não que eu ache sentido em todos) e contraditórios são esclarecidos já na introdução: “Eu tive um pesadelo...” e numa voz (de Licks) automatizada que repete no meio da canção: “O supra-sumo da contradição”. É uma música agitada, com momentos pesados e bem divertida.
            Mais uma canção com versos tristes e calma, mas muito agradável e com uma pegada forte (uma balada pesada, entenderam?), A Conquista do Espelho é bem curta e é interligada com Problemas... Sempre Existiram, meio estranha e chata de início mas fica bem pesada depois. O título se refere aos versos “Problemas sempre existiram/ sempre existirão”, tipo de dificuldade ortográfica que eu, como professor de português lido com os alunos, mas isso não vem ao caso, importa saber que a letra é muito interessante e poética, bem rica literariamente falando (metalinguagem e coisa e tal). O final também é interligado com a última faixa.
            A Conquista do Espaço é bem agitada e alegrinha, divertida na letra e na melodia, no final tem uma mescla de elementos musicais e relativos à letra de várias das canções anteriores deste mesmo álbum.
            Então concluo esta série dizendo que Gessinger, Licks & Maltz é um daqueles discos que tem de se ouvir várias vezes pra gostar. Aos roqueiros exige uma certa atenção para os versos a fim de ser melhor apreciado, já que em termos sonoros pode não agradar a todos. Então tá então!

Momentos Inesquecíveis:

·      “ me espanta que tanta gente sinta (se é que sente)/ a mesma indiferença”
·      “se uma razão nos parecesse/ a natureza inevitável/ qual fronteira separando/ estes estados nada estáveis”
·      “ pra ouvir melhor, melhor apagar a luz/ Deve ser o que chamam túnel do tempo/ ano 2000 era futura há pouco tempo atrás/ Há uma luz no fim do túnel e não é um trem na contramão...”
·      “Falta pão/ O pão nosso de cada dia/ Sobra pão/ O pão que o diabo amassou/ Chuva de containers/ entertainers no ar/ Noir/ ...Não caberemos todos em Miami/ Ame-o ou deixe-o”
·      “Vamos namorar à luz do pólo petroquímico”
·      “Escuridão/ Hora da colheita pra quem semeou vento/...Só depois de perder você descobre que era um jogo/ Um jogo que não acaba nunca, nunca acaba empatado”
·      “Eu tive um pesadelo, tive medo de não acordar/ Eram várias variáveis/ Um vírus voraz no computador/ Clichês inéditos/Déja vu nunca visto/diet indigestão/ jagunço hi-tech/ ...Overdose homeopática/ Humildade com h maiúsculo e dourado/ fuso anti-horário/confusa explicação/ Bacanal cristão/ fanatismo indeciso/ fanática indecisão/Em resumo: etc e tal...”
·      “Paralelas que se cruzam em Belém do Pará”
·      “Eu roubei estes versos como quem rouba pão/Com a mão urgente, com urgência no coração/ Eu roubei quase tudo que eu tenho só pra chamar tua atenção/ e quando cheguei em casa/ vi que lá morava um ladrão”
·      “ A última palavra é a mãe de todo o silêncio/ ...façamos silêncio pra ouvir o último poema/ Por que você não soa quando toca?/ Por que você não sua quando ama?/ Por que você não sua quando toca?/ Por que você não soa quando ama?”.

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