Quinto trabalho da banda finlandesa Nightwish, o álbum Century Child (Criança do Século), de 2002, é bem melancólico,
nos temas e na sonoridade, sem deixar de lado o peso em algumas faixas, nem as
características da banda até então presentes nos trabalhos anteriores, como o
teclado abundante, voz lírica (começando a atenuar) e aquela impressão épica
que fica ao escutar com atenção.
Com um coral, voz narrativa e teclado crescente na introdução, Bless The Child (Abençoe a Criança) abre
o disco com muita competência, muita melodia e melancolia, com ritmo não muito
acelerado, falando sobre uma alma triste cheia de autopiedade, lamentando: “Por
que só sou amado depois de ter ido embora (morrido)?”. A alma volta no tempo para
abençoar a criança (ela mesma, acho) quando era inocente: “Sem inocência a esperança é apenas uma ilusão”. A letra exige
conhecimento de certas referências culturais como nos versos: Há
uma gota de veneno neste cálice do Homem/ Bebê-lo é seguir o caminho da mão
esquerda”, sendo que em Teologia aprende-se que para os hebreus a mão
esquerda representa o norte. Poético, não? Tornou-se obrigatória nos shows. O
videoclipe mostra um visual bem gótico que combina com a música, Tarja parece
uma vampira.
A música mais pesada do álbum e clara tentativa de repetir o sucesso de Wishmaster, dada a semelhança de
sonoridade, End Of All Hope
(Fim de Toda A Esperança) consegue ter êxito em sua proposta, graças ao refrão
repetitivo e grudento, que fica na cabeça. O nome deixa claro o tema, parece o
apocalipse para um ser amargurado: “Este
é o fim de toda a esperança /(...)Acabar com toda a inocência/ Ser alguém como
eu”. Faz também referência ao primeiro álbum: “Os anjos, eles caíram primeiro, mas eu ainda estou aqui”.O vídeo é
feito com imagens ao vivo sem muita sincronia intercaladas com cenas de um
filme finlandês de terror sobre vampiros, com efeitos bem legais. Uma das
melhores faixas deste trabalho, com o pedal duplo da bateria em trabalho
constante.
Com novo baixista (segundo à direita) |
Começando já clássica com voz dobrada, Dead
To The World (Mortos Para O Mundo) é bem agitada e muito bem cantada por
Marco Hietala (novo baixista e vocais de apoio) e claro, Tarja. Pra variar, fala do desejo de morte: “Rainha do paraíso, carregue-me/ Para longe
de toda a dor.” Guitarras arranhadas em riffs rápidos ganham destaque nesta
canção, também.
A quarta faixa, Ever Dream (Já
Sonhou?) começa bem suave, com piano e voz melancólica e explode com o teclado
comandando, até entrar na parte cantada, bem melancólica e romântica mas com
certo peso, é um clássico. Pura poesia apaixonada num furor de sensualidade: “Entregue-se, entregue-se para meu toque/
Para meu sabor, para minha luxúria”. Ouvir isso com a voz suave de Tarja é
extremamente prazeroso. Também é desta canção um dos mais bonitos versos
românticos que já li, que traduzido fica mais ou menos assim: “Sua beleza caiu como uma cascata sobre mim”. - virou um dos maiores hits da banda em shows.
Slaying The Dreamer (Assassinando O
Sonhador) começa com um riff bem pesado, e segue assim até o fim, mas a partir
da segunda metade, com os vocais masculinos, o peso dobra. A letra mostra fúria
e decepção, além de autopiedade, demonstrando mais uma vez, inclusive afirmado
em entrevistas, que Tuomas (tecladista e autor das letras) passava por uma fase
difícil: “Canção do Cisne para o Desejo
da Noite” (fim do Nightwish?).
Eu tenho uma opinião pessoal sobre o motivo desta tristeza toda que permeia
este álbum em particular, mas prefiro não revelar até postar minhas impressões
sobre os demais álbuns. (este texto é originalmente de 2006). Mas chamo a atenção para mais alguns versos desta
quinta música de Century Child: “Garoto
estúpido/vivendo num sonho/ Romântico apenas no papel”.
Mais uma canção triste, inclusive na sonoridade e ritmo bem lento, Forever Yours (Para Sempre Sua/Seu) se
resume neste verso, que me lembra uma frase do Surfista Prateado: “O que quer que ande em meu coração andará
sozinho”. A do Surfista é: “Onde quer
que o Surfista Prateado vá, ele deverá ir sozinho”. Fala sobre um amor
perdido que fez perder a razão de viver.
A sétima canção começa e o ouvinte nem percebe, pois o ritmo é quase o mesmo da
anterior, só que agora com bateria. Ocean
Soul (Alma do Oceano) mostra mais uma vez a cultura ligada ao Oceano, o
hábito de vislumbrá-lo: “Longas horas de
solidão/ Entre mim e o mar. Olha a deprê: “Mais uma noite/Para suportar este pesadelo”.
Outra canção com poesia romântica, no mesmo estilo da anterior e também boa, Feel For You (Sinto Por Você) também
mescla a voz suave de Tarja com o vocal rasgado de Marco.
Dispensando apresentações, Phantom of The
Opera apenas apresenta uma versão pesada da conhecida música, que parece
ter sido feita sob medida para o Nightwish, ou vice-versa. Os personagens de
Christine e o Fantasma ficaram bem representados pelas vozes da banda.
Finalizando o álbum, Beauty Of The Beast
(A Beleza da Fera) tem mais de dez minutos e uma sonoridade de incrível
qualidade, começando bem calma e a segunda metade desenvolvendo a parte épica,
com bateria, teclados e coral de vocais líricos. A letra divide-se em 3 partes
cujos nomes traduzidos são: Amor há muito
perdido/ Uma noite a mais para viver/ Christabel, sendo que a última é uma
voz narrativa masculina, se referindo a um livro cuja adaptação para filme eu
assisti, mas não lembro o nome. Falava de um amor secreto entre um poeta famoso
e a poetisa Christabel, que era lésbica. Não sei se o restante da letra tem a
ver com literatura. Os sempre tristes versos que se destacam e que
parecem confirmar minha teoria a ser comentada futuramente são: “Toda esta beleza está me matando”, “O que deveria estar perdido está
ali”, "Sei que minha maior dor ainda está por vir”, Todas as minhas
canções/ Só podem ser compostas da maior das dores”.
Este álbum serviu para consolidar ainda mais o sucesso do Nightwish como força
do Heavy melódico na época. As canções inspiradas de Tuomas, embora refletissem
tristeza, tinham também aquela beleza romântica que é inerente à palavra poesia
como é mais conhecida. Uma colega de faculdade uma vez disse e concordo: pra
ser poeta tem que sofrer, e pelo menos pra mim funcionava assim, tristeza
trazia inspiração. Acho que para o tecladista e compositor do Nightwish,
também.
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